3 de agosto de 2011

agosto

Clara acordou cinza, assim como o céu que escorria pela sua janela.
Lavou o rosto, observou suas olheiras que estavam cada dia maiores e entrou no chuveiro.
O dia frio, a água morna e uns pensamentos vagos pelo ralo.
Saiu do banho e voltou aos pijamas, se recusou a sair de casa estando tudo assim, tão cinza, por dentro e por fora.
Uma caneca de água fervente no microondas, um sachê de chá preto, sem açúcar. Engoliu amargo, queimou a garganta.
Já não encontrava sentido no que antes preenchia. O trabalho estava repetitivo, tentativas de amor nunca foram tão burocráticas.
Um vazio.
Desses que nem poesia cura.
Pousou os olhos num porta retrato apoiado em uma de suas prateleiras desorganizadas.
Ela, então com sete anos, sorria de pés descalços.
Não ficou nostálgica, nem triste, nem melancólica, não.
Permaneceu cinza, deitou e adormeceu novamente, com a esperança de despertar mais viva.



Um comentário:

Amarylis disse...

agosto escorre melancólico.
muito bonito dedé.