12 de dezembro de 2010

eu chorei de revolta ou arrependimento. lágrimas tuas, talvez.

hesitei e agora escrevo. não sei se devia, mas preciso.
finjo tanto. penso pouco.
viver é difícil, mas às vezes piora. abri a janela pro ar entrar, pra ver se o vento leva minha angústia.
mas o vento também traz muitas coisas, coisas que um dia eu quis te dar e não dei - por medo, desconfiança, proteção. lembro de uma vez que eu olhei bem na tua pupila e te senti estranho. o distanciamento que eu criei entre nós virou um abismo que eu caio, até agora.
pensei em colocar nossa música pra tocar, mas não. seria pesado...
você tem uma docilidade que me enerva e um temperamento que me incomoda.
(lembra quando combinamos de nos casar naquela igrejinha no quadrado, com um céu que não tem fim?)
não te peço nada. eu só quero que esse caos me transporte pra um lugar mais leve.
tinha tanta coisa pra dizer... mas às vezes o silêncio é uma forma de não desmoronar.



PS:  passa. sempre passa

7 de dezembro de 2010

quinta-feira

Ana tinha um emprego estável, um gato (branco e preto), um namoro conturbado de dez meses, muitos sonhos e poucos planos.
Léo tinha uma carreira promissora, uma almofada de estimação, um namoro acomodado de dois anos, poucos sonhos e nenhum plano.
Um dia cinza de outubro que eles se encontraram pela primeira vez no elevador do prédio.
Ela tinha sido vítima de um furto no centro da cidade e aguardava a vizinha do andar de cima chegar com sua chave reserva, pra que pudesse finalmente entrar em casa.
Ele fez um convite cordial, para que ela aguardasse na casa dele, se quisesse.
Léo não era de convidar desconhecidas para entrar em sua casa. Mas um misto de simpatia e cavalheirismo fez com que insistisse.
Ana não era de entrar na casa de desconhecidos. Mas um misto de curiosidade e cansaço fez com que aceitasse.
A casa tinha um chão quadriculado (branco e preto), um tapete vermelho, enfeites inusitados e um cheiro de cravo.
Ele ofereceu café, ela aceitou uma água.
Porta-retratos revelavam uma família grande que parecia viver longe. Descobriram gostos em comum e compartilharam uns segredos guardados.
Em meia hora, já eram almas gêmeas. Em uma hora, tinham mais afinidade que John e Paul.
Esses encontros inesperados e intensos que acontecem vez ou outra.
Um beijo demorado, a cama, o suor e uns arranhões nas costas dele.
Não foi sexo exatamente. Foi quase. Foi demorado. Foi uma preliminar sem fim. Foi uma irracionalidade descontrolada.
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Léo que observava e desenhava na cabeça cada curva do corpo esguio de Ana, enquanto ela se vestia.
Ana que enquanto colocava a roupa sentia o cheiro da saliva de Léo nos seus seios.
Um olhar de cumplicidade e um abraço de adeus ou até logo.
Um sorriso de Léo ao trancar a porta.
Um suspiro de Ana no elevador.
Um acaso. Acaso do destino, talvez.