7 de dezembro de 2010

quinta-feira

Ana tinha um emprego estável, um gato (branco e preto), um namoro conturbado de dez meses, muitos sonhos e poucos planos.
Léo tinha uma carreira promissora, uma almofada de estimação, um namoro acomodado de dois anos, poucos sonhos e nenhum plano.
Um dia cinza de outubro que eles se encontraram pela primeira vez no elevador do prédio.
Ela tinha sido vítima de um furto no centro da cidade e aguardava a vizinha do andar de cima chegar com sua chave reserva, pra que pudesse finalmente entrar em casa.
Ele fez um convite cordial, para que ela aguardasse na casa dele, se quisesse.
Léo não era de convidar desconhecidas para entrar em sua casa. Mas um misto de simpatia e cavalheirismo fez com que insistisse.
Ana não era de entrar na casa de desconhecidos. Mas um misto de curiosidade e cansaço fez com que aceitasse.
A casa tinha um chão quadriculado (branco e preto), um tapete vermelho, enfeites inusitados e um cheiro de cravo.
Ele ofereceu café, ela aceitou uma água.
Porta-retratos revelavam uma família grande que parecia viver longe. Descobriram gostos em comum e compartilharam uns segredos guardados.
Em meia hora, já eram almas gêmeas. Em uma hora, tinham mais afinidade que John e Paul.
Esses encontros inesperados e intensos que acontecem vez ou outra.
Um beijo demorado, a cama, o suor e uns arranhões nas costas dele.
Não foi sexo exatamente. Foi quase. Foi demorado. Foi uma preliminar sem fim. Foi uma irracionalidade descontrolada.
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Léo que observava e desenhava na cabeça cada curva do corpo esguio de Ana, enquanto ela se vestia.
Ana que enquanto colocava a roupa sentia o cheiro da saliva de Léo nos seus seios.
Um olhar de cumplicidade e um abraço de adeus ou até logo.
Um sorriso de Léo ao trancar a porta.
Um suspiro de Ana no elevador.
Um acaso. Acaso do destino, talvez.

3 comentários:

Amarylis disse...

fez vivos todos os sentidos.

bagadefente disse...

quinta-feira sempre foi meu dia favorito...

Vitor Freire disse...

A gênese.